Janis Stankuns

Janis Stankuns

Jānis

Meu avô Janis nasceu em 24 de junho de 1913, segundo ele mesmo nos contava em nossa infância (o registro oficial é de 08 de julho de 1913). É um dia muito importante na Letônia, quando é celebrado o solstício de verão, Jāņi, e nesse dia tradicionalmente também se celebra o Dia de São João em muitos países, e me lembro dele falar sobre fazer uma fogueira e de minha mãe contar que quando era criança havia esse costume de celebrar com o fogo. Será daí a origem do seu nome (Jānis, João, Ivans, John), relativamente comum na Letônia?

Convivemos durante minha infância, mas muito da minha curiosidade sobre sua vida de criança e juventude e mesmo sobre a Letônia só surgiram anos depois de sua partida, e algumas informações e respostas só começaram a surgir recentemente, nos últimos anos.

Morou em São Paulo, sempre na Vila Romana, era técnico mecânico na Cardobrasil, casou-se com Elvira da Fonseca e teve duas filhas, Tania e Nádia. Mas primeiro, voltemos um pouco no tempo.

a vida na Letônia

Janis era filho de Michails e de Agate, e irmão de Viktors.

Michails Stankūns (ou Miķelis, ou Stankuna ou Stankunas) era filho de Jura (ou Juris), nasceu em 22 de novembro de 1869, na região de Kaunas, na Lituânia e se tornou cidadão da Letônia em 09 de maio de 1921. Católico, não sabia escrever. Em um documento pessoal, de 1935, diz que ele estava no hospital psquiátrico localizado na Rua Duntes, 12/21, Riga.

Agate era filha de Kazimirs Svežiks (Sweschikas). Nasceu em 1886 e, assim como Michails, também era católica, nascida na Lituânia, e se tornou cidadã da Letônia em 09 de maio de 1921. Segundo informações do Censo de Riga, nos anos de 1930 morava na Rua (iela) Katolu, 48/50, apartamento 63, com seus filhos, Viktors e Janis.

Viktors Stankunas, filho de Miķelis e Agate, nasceu em 12 de fevereiro de 1909 (o registro oficial é de 12 de janeiro de 1910) em Riga, na Letônia, e segundo seu passaporte era católico, estudante. Manteve sua assinatura Stankunas, o que seria provavelmente mais de acordo com a versão/grafia lituana. Aparece em um documento de 1932 solicitando um novo passaporte para seu pai, Michails, que teria perdido e precisava de um novo para poder receber tratamento de saúde adequado e que morava na Rua Katolu.

Janis Stankuns
Janis Stankuns

Segundo o documento do Censo encontrado no Arquivo Nacional da Letônia, em 14 de fevereiro de 1939 Janis morava em Riga, na rua Katolu 15-63 (antiga rua Katoļu 48/50).

a mudança para o Brasil

Pouco antes de completar 26 anos de idade, Janis chegou ao Brasil na embarcação Mar del Plata, que partira da Finlândia. Na Secção Consular do Brasil em Helsinki, há uma ficha consular de qualificação e visto obtido em março de 1939. Desembarcou no porto de Santos em 21 de maio de 1939, e sua primeira residência foi na Rua Guaicurus, 41, já na Vila Romana, bairro de São Paulo onde viveria a maior parte de sua vida, e para onde se instalara a fábrica na qual trabalhava e, razão de sua mudança. Era a Cardobrasil, cujos donos, sentindo ou antevendo a tragédia que se aproximava da Letônia (ocupação nazista e depois soviética), mudaram-se, com famílias e as instalações industriais, equipamentos e maquinário, para o Brasil, história que espero contar com mais pormenores em breve em outro post.

No mesmo navio, junto com Janis, vieram Fricis e Alise. Fricis Balklavs-Grinhofs, nascido a Tuckum, Letônia, em 25 de junnho de 1894, também era técnico/mecânico, e também desembarcou em 21 de maio de 1939, amigo e colega de Janis na Cardobrasil. Ele faleceu em 08 de março de 1978. Sua esposa era Alise Balklavs Grinhof, que faleceu em 12 de jullho de 1985. Fricis e Alise eram padrinho e madrinha da minha mãe, e me lembro dela ter um carinho muito grande por ela, a quem chamava de titia, e tenho algumas lembranças da minha infância, do seu cabelo branquinho e de nos oferecer um bombom quando íamos na sua casa, ainda junto com a fábrica.

Janis, que gostava muito de caminhar, trabalhou na fábrica até se aposentar. Antes disso, com 29 anos, casou-se com Elvira, que tinha 25 anos de idade, na Igreja da Praça Cornélia, Vila Romana, São Paulo em 04 de dezembro de 1942. Em outubro de 1945 nasceram suas filhas gêmeas, Nádia e Tania. E alguns anos mais tarde, chegaram os netos :-).

galeria de imagens

pesquisa em andamento

Muitas das informações sobre o meu avô e também meus bisavós foram encontradas nos últimos anos, a partir de 2020, e tem como fonte o arquivo histórico da Letônia.
Meus bisavós terem nascido na Lituânia foi uma das novidades descobertas nesse período, e portanto é um caminho ainda a ser explorado. Suas vidas na Lituânia e seus antepassados ainda podem ser pesquisados, mas não sei ainda como é essa pesquisa genealógica por lá, e não sei lituano e sei poucas palavras de letão.
Numa rápida pesquisa pela internet em 2023, achei uma referência a um dicionário de sobrenomes onde aparece Stankuna e também Sveziks em cidades da Lituânia como Jonisks e Salociai, então poderia pesquisar mais a respeito.
Sobre o Viktors, meu tia-avô, também não tenho mais informações do que as que as histórias que meu avô contava. Se comunicavam com cartas esporádicas que atravessavam o mundo durante o período de ocupação soviética do país, cartas que estão guardadas em algum fundo de baú e ainda espero poder re-encontrá-las. Há alguns anos, pré-internet, a tradução do português para o letão e vice-versa era difícil em São Paulo, onde vivíamos, e depois que Janis faleceu acabou-se perdendo o contato.
Fricis e Alise não tiveram filhos e não sei nada a respeito da história deles. Oficialmente não são da família Stankuns mas é quase como se fossem, eram padrinhos da minha mãe, e também pode ser uma boa continuação de pesquisa, descobrir mais histórias

genealogia

Utilizando a numeração de Sosa-Stradonitz:
Janis é o número [10] (bisavô paterno)
Elvira é a número [11] (bisavó materna)
Mikails é o número [20] (trisavô)
Agate [21] (trisavó)
Jura [40] (tataravô)
Kazimirs [42] (tataravô)

numeração de Sosa-Stradonitz

A numeração de Sosa-Stradonitz [Numeração de Sosa-Stradonitz (ou sistema de numeração de Eyzinger-Sosa-Stradonitz), é um sistema de numeração dos antepassados nas genealogias ascendentes, também conhecido por método Stradonitz ou Ahnentafel. Este método atribui o n.º 1 ao indivíduo cuja genealogia se estuda (o sujeito, chamado de cujus ou probandus), o n.º 2 ao seu pai e o n.º 3 à sua mãe. Os seus avós paternos terão os números 4 e 5, e os avós maternos terão os números 6 e 7. Cada homem tem um número que é o dobro do número do seu filho (2n) e o número de cada mulher é o dobro do número do seu filho mais 1 (2n + 1).

Por exemplo:

  • os pais do n.º 6 são o n.º12 e o n.º 13;
  • o n. 23 é mulher do n.º 22, que são pais do n.º 11.

Cada grau de ascendência tem um efectivo teórico correspondente à potência de 2 do seu grau. Simultaneamente o menor número de ascendência desse grau é igual ao efectivo teórico do mesmo grau. Deste modo, no grau dos trisavós, do qual o efectivo teórico é 16 (24), o menor número de ascendência é o 16 (o avô paterno do avô paterno do sujeito).

Regras gerais

  • O n.º 1 pode ser homem ou mulher (o sujeito);
  • Todos os outros números ímpares são mulheres;
  • Os números pares são sempre homens;
  • O pai de n é 2n, a mãe de n é 2n +1;
  • Os antepassados por varonia (linha masculina) têm sempre números que são potência de base 2.

Estou considerando, para essa numeração, que os números [1] sejam meus filhos e portanto eu seja o [2].


Publicado

em

,

por

Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *